Conto de Leo Tabosa
A banheira que já havia sobrevivido há quase três décadas ainda continuava jogada ao léu no quintal da casa verde da Rua dos Canavieiros. Sua única serventia foi ser usada como nave espacial e piscina nas brincadeiras com meus irmãos.
Quando regresso à casa dos meus pais sempre passo algumas horas admirando o quintal que foi palco de tantas descobertas. Olhando para a banheira é impossível não recordar da descoberta da minha sexualidade.
Afirmo sem pudores que depois de Pollyanna o sexo não foi mais o mesmo.
- Nome? É claro que ela tinha um nome. Não era uma qualquer.
Na caixa de sapato, onde morava, tinha seu nome escrito na tampa com letras garrafais: POLLYANNA. Pollyanna escrito com dois eles, dois enes e um ipsilone. Nome digno para um ser albino de aspecto europeu e ascendência nobre.
Conheci Polly ainda pequena. Polly era a forma carinhosa como a chamava. Todo casal apaixonado tem uma forma carinhosa de tratamento. Ela estava na cozinha passeando sobre as sobras do jantar. Não posso dizer que foi amor à primeira vista, mas fiquei encantando com sua simpatia e coragem. Mesmo percebendo a presença de uma ameaça à sua existência não fugiu. Sua coragem foi o que mais me seduziu.
No outro dia lá estava ela me esperando na cozinha. Mesmo acendendo a luz e me aproximando da pia continuava lá fazendo sua refeição sem se importar com minha presença. Não resisti e levei-a para morar no meu quarto.
Pollyanna se desenvolveu rápido. Ficou forte, saudável e higiênica. O curioso é que nunca tentou fugir de casa, quando ficava entediada saia para passear, mas retornava antes do anoitecer.
Um dia, na madrugada, acordei com uma sensação prazerosa… Pollyana caminhava explorando meu corpo sob o calção. Naquela noite algo muito estranho acontecera comigo, estava banhado por uma gosma branca e fosforescente. Logo pensei que minha pequena tinha passado mal.
- Será que andou comendo algo estragado ou radioativo em seus passeios? Só mais tarde descobriria dentro da banheira o significado daquela experiência.
Quando ficava sozinho em casa enchia a banheira até a metade, tirava minha roupa e entrava. Deixava meu mastro em riste e depois soltava a pobre da Pollyanna de dentro da caixa. Ela nadava desesperada com medo de se afogar e a única terra à vista era um cume que emergia de dentro d’água. A glande roxa e esponjosa da minha lança, onde suas inúmeras patinhas tentavam encontrar nela, um porto seguro.
Sensações indescritíveis e momentos felizes vivi até ser surpreendido por minha mãe, Maria Aparecida da Conceição. Católica praticante, ficou horrorizada e fez logo cara de nojo quando viu o espetáculo da criação.
Percebi que seria o fim do nosso romance clandestino. Apanhei dentro e fora da banheira. E minha namorada foi morta…
Assassinada por uma mulher fria e preconceituosa. Morta a chineladas. Morta com minha própria chinela.
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